Tenho me questionado muito sobre o quanto nosso tempo de vida é dedicado ao trabalho, falo isso também em termos de horas diárias que passamos nesse ambiente e confesso que me dá conta dessa condição tem me assustado.
Talvez eu esteja sendo até injusta e olhando para a situação apenas da minha própria perspectiva, mas tenho sentido a vida tão direcionada apenas ao trabalho, que tenho me perguntado constantemente para onde estou indo e se isso tem feito sentido para mim.
Quando eu trago aqui essa perspectiva para discutir com vocês me coloco também como uma pessoa que tem tido uma vida permeada pelo trabalho, mas que hoje se vê cansada dos sentidos que me foram ensinados ao longo da vida.
Sempre ouvi que o trabalho dignifica o ser humano, não é que eu discorde dessa frase, mas acredito que ela coloca um peso tão grande nessa área da vida, que outras tão importantes quanto se tornam quase inexistentes.
E aí chegamos a fase adulta nos sentindo culpadas por precisar descansar, ou pior, sem saber descansar. E eu vou te falar que parece até bobo, mas as pessoas realmente não sabem descansar (eu aprendi faz pouco tempo com muita terapia) e vivem em uma aceleração tão grande que a ansiedade e o burnout fazem morada.
Fico pensando nessa realidade quando se refere a pessoas que trabalham no que não gostam ou que não traz nenhum tipo de realização pessoal, o peso se torna um fardo gigantesco, quase que insustentável, mas que muitas vezes pela falta de oportunidade é preciso suportar.
Enquanto escrevia essa palavra SUPORTAR senti o peso e a rigidez nos meus ombros, como é difícil “ter que” alguma coisa, é como se tivéssemos que carregar a vida nas costas e podemos até tentar fazer isso, mas será a duras quedas e muito sofrimento.
Mas para além disso tudo não dá para desconsiderar o país em que vivemos e a imensa desigualdade social que nos obrigada a permanecer onde gera sofrimento a tanto tempo, pois em muitos casos é a única fonte de renda da pessoa, ou até mesmo da família.
Não posso chegar aqui e romantizar um tema tão sério com um discurso de mudança e força de vontade, sem levar em consideração que as oportunidades chegam de formas diferentes para cada um.
É cruel demais viver no modo sobrevivência, ver o corpo gritando com seus sinais, como por exemplo dores de cabeça, queda de cabelo, fadiga excessiva, dermatites, ansiedade, depressão, entre outros adoecimentos, e não ver uma luz no fim do túnel. Se você tiver passando por isso eu te entendo, infelizmente isso é mais comum do que deveria ser.
Pode não parecer agora, mas é possível encontrar luz no fim desse túnel, mas para que isso aconteça será necessário muita coragem e movimento.
A vida é dinâmica, que bom, nada é permanente, nem os nossos piores momentos, e é por meio dessas movimentações que podemos nos encantar novamente pela vida e buscar soluções possíveis com base na nossa realidade.
Glaciliana Angelo
Psicóloga Clínica - CRP 11/12950
@glacilianaangelo