Se você, assim como eu, foi uma criança que cresceu nos anos 2000, é bem provável que tenha assistido a Lilo & Stitch (2002). O filme animado foi um verdadeiro fenômeno da Disney no início do século, rendendo sequências em home video e uma infinidade de produtos licenciados. Com personagens carismáticos e uma história comovente sobre família e pertencimento, a animação original conquistou o status de clássico ao longo dos anos. Por isso, dentro da atual onda de remakes live-action do estúdio, era só questão de tempo até que Lilo & Stitch também ganhasse sua versão em carne e osso.
Dirigido por Dean Fleischer Camp, responsável pelo aclamado Marcel the Shell with Shoes On (2021), o remake chega 23 anos após o original — e em um mundo bastante diferente. Ainda assim, a Disney opta por permanecer em sua zona de conforto ao longo de 1h48min, entregando uma adaptação que, em grande parte, se limita a replicar cenas do filme de 2002. Curiosamente, as poucas mudanças feitas ocorrem em elementos-chave do desfecho, o que desagradou parte do público.
Apesar disso, Lilo & Stitch (2025) não é um completo desperdício. Um dos pontos altos é a transição visual do personagem Stitch do 2D para o 3D. A criatura alienígena continua carismática, caótica e divertida, sendo responsável por alguns dos melhores momentos do filme. Já no elenco humano, o maior destaque vai para Sydney Agudong, que interpreta Nani, irmã mais velha de Lilo. Agudong entrega uma performance emocionalmente sólida, assumindo até mesmo certo protagonismo em momentos importantes.
Lilo, por sua vez, é interpretada por a jovem Maia Kealoha. Embora se esforce, a atriz não consegue transpor toda a complexidade e personalidade vibrante da personagem para o live-action. A adaptação da garota excêntrica e cheia de imaginação para o "mundo real" parece esvaziada.
Outro ponto frustrante é o desperdício de talentos do elenco de apoio. Um exemplo claro é Zach Galifianakis, que interpreta o cientista alienígena Jumba. Aqui, ele aparece em sua forma humana durante todo o tempo — provavelmente por questões orçamentárias — e tem sua participação reduzida, sem espaço para usar seu timing cômico e improvisação, que poderiam ter enriquecido bastante o filme. Aliás, o humor do longa é um dos problemas: previsível e engessado, não consegue capturar o mesmo espírito leve e inesperado do original.
A narrativa, no geral, soa sem alma — algo irônico, considerando que muitas cenas são um “copia e cola” do filme original. As referências a Elvis Presley continuam presentes, mas agora soam como acenos decorativos, sem o mesmo peso narrativo que tinham em 2002. Personagens secundários marcantes também foram diluídos a meras participações pontuais, tirando muito da riqueza do universo que fez o primeiro filme tão especial.
No fim das contas, Lilo & Stitch (2025) parece mais um lembrete de como o original ainda funciona perfeitamente bem por si só. E essa sensação não é exclusiva deste título — ela ecoa por praticamente toda essa nova safra de remakes live-action da Disney. Rever o filme de 2002 acaba sendo uma experiência mais gratificante do que embarcar nessa nova versão.