A crise que a Marvel Studios enfrentou após Vingadores: Ultimato (2019) é notável — tema, inclusive, de um texto que publiquei no ano passado. Entre filmes focados em personagens novos e sequências mal recebidas, a Casa das Ideias não conseguiu emplacar um sucesso como o do épico de 2019, apesar de ter entregado boas produções no período. Nesse cenário, a ideia de lançar um filme dos Thunderbolts, grupo formado por anti-heróis nos quadrinhos, parecia pouco promissora. No entanto, o resultado surpreende e diz muito até sobre a relação do estúdio com seu público.
A formação da equipe já vinha sendo sugerida no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), especialmente em Falcão e o Soldado Invernal (2021), onde é mencionado o interesse do governo em criar um grupo para atuar nos bastidores. Mas Thunderbolts (ou Thunderbolts* — como aparece nos materiais promocionais) opta por um ponto de partida mais caótico: seus membros se veem reunidos por acaso, enredados em uma conspiração que ameaça suas vidas. Às autoridades, eles são descartáveis — uma ideia que guia parte do subtexto do filme.
O longa se inicia com uma excelente sequência de ação protagonizada por Yelena Belova, vivida com carisma por Florence Pugh. A atriz, mais uma vez, mostra seu talento para se moldar aos diferentes tons do universo Marvel. Ao lado dela, temos o retorno do Guardião Vermelho (David Harbour), visto anteriormente em Viúva Negra (2021). De fato, Thunderbolts funciona quase como uma continuação direta não apenas desse filme, mas também de Falcão e o Soldado Invernal, e até de Homem-Formiga e a Vespa (2018), ao trazer de volta personagens como o Capitão América de John Walker (Wyatt Russell), Bucky Barnes (Sebastian Stan) e a Fantasma (Hannah John-Kamen).
A novidade da vez é Bob, interpretado por Lewis Pullman, um personagem inédito no MCU que serve como elo entre os demais. Ele é uma cobaia de experimentos secretos, e sua história adiciona um tom mais sombrio ao roteiro, que trata de temas como pertencimento e solidão — aspectos que reforçam o drama e justificam bem a ameaça central da trama.
Embora o elenco funcione bem como conjunto, alguns personagens acabam sendo subaproveitados. Capitão América (Walker) e Fantasma, por exemplo, carecem de desenvolvimento mais profundo. Ainda assim, a química entre os membros da equipe mantém a dinâmica interessante. Ver esse grupo de desajustados tentando lidar com uma crise em comum — mesmo sem se entenderem entre si — é parte do charme do filme.
O ponto mais fraco fica por conta do terceiro ato. Após se manter mais contido durante a maior parte do tempo, o filme recai em um clímax grandioso e barulhento, típico da Marvel. Um estilo que, depois de tantos títulos, soa repetitivo e um tanto cansativo.
Apesar disso, Thunderbolts (ou como revelado, Novos Vingadores) encerra a conturbada Fase 5 do MCU com um acerto inesperado. É o tipo de proposta que deveria ter sido priorizada desde o início: filmes autocontidos, com começo, meio e fim bem resolvidos, sem depender do que virá depois. Por isso, se destaca como um dos melhores esforços recentes da Marvel Studios — uma obra que, enfim, entende que contar uma boa história basta.