Vivemos tempos em que o fútil vem ganhando cada vez mais espaço. A banalização de coisas insignificantes tornou-se comum, virando moda e, muitas vezes, regra no mundo em que vivemos.
Um exemplo claro disso, e que merece ser salientado, são os conteúdos irrelevantes, os discursos superficiais e os comportamentos duvidosos que se espalham de forma desenfreada pelo mundo. Aquilo que antes parecia passageiro agora se tornou constante, sendo repetidamente banalizado, ocupando o topo das redes sociais, das conversas cotidianas, dos círculos influentes e ganhando luz, views, likes e engajamento. Mas por que a superficialidade vem ganhando tanta audiência?
A resposta pode ser mais simples do que imaginamos. O primeiro ponto começa na velocidade da era da internet. As redes sociais permitem a comunicação em tempo real com pessoas de todo o mundo. A troca de mensagens, informações e publicações ocorre em segundos. Tudo acontece e desaparece em minutos. Porém, o que realmente atrai olhares e engajamento são conteúdos virais com forte impacto visual e emocional, discursos de ódio, brigas, escândalos. E, quanto mais vazios, bobos ou irrelevantes forem esses conteúdos, maior tende a ser o consumo e a popularidade entre a maioria.
Outra razão que deve ser evidenciada é a cultura do imediatismo. As mídias digitais incentivam a sede incessante por curtidas, seguidores, reconhecimento e enriquecimento rápido, o que estimula diretamente o consumo contínuo de conteúdos superficiais, chamativos, mas sem profundidade. O que percebemos é que o que está em jogo é o pódio, mas o conteúdo, em si, pouco importa.
Esse problema pode passar despercebido quando a futilidade apenas serve como distração. Mas, hoje, presenciamos um crescimento alarmante de como esse cenário molda comportamentos e afeta a vida das pessoas. Entre os efeitos colaterais estão a dependência digital, o isolamento, a ansiedade, a depressão, a pobreza intelectual, a baixa autoestima, a bipolaridade e outras doenças psíquicas que podem ser desenvolvidas.
A obsessão por padrões de beleza inalcançáveis, o vício em fofocas sobre a vida de famosos ou "subcelebridades", a necessidade de aprovação, a ostentação em redes sociais, o consumismo exagerado e a perda de foco são problemas reais enfrentados em nossa sociedade que merecem atenção. E o mais preocupante disso tudo é que virou algo visto como normal.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), em 2017 e 2018, apontou que o uso excessivo da internet pode levar à ideação suicida entre universitários. O estudo revelou que cerca de 12,5% desses jovens apresentam comportamentos associados ao uso desmedido de dispositivos eletrônicos. E o problema vai além, as doenças mentais não atingem apenas os jovens. Elas podem surgir na infância, na adolescência, na vida adulta ou na velhice. Nenhuma idade está imune.
O tema aqui discutido é o motivo pelo qual a futilidade se torna tão evidente, sobretudo nas redes sociais. Mas é fundamental destacar os riscos reais que esses comportamentos podem gerar, prejudicando profundamente nossa forma de viver, especialmente quando ficamos anestesiados diante do uso excessivo das telas.
É urgente valorizar conteúdos que edificam e transformam. Precisamos criar caminhos para consumir aquilo que nos faça crescer, refletir e desenvolver. Mas isso exige escolhas. E a escolha começa em cada um de nós, com a mudança de hábitos, comportamentos e percepções.
No fim das contas, a questão principal não está apenas em entender por que o superficial vira moda, mas, sim, em refletir por que, enquanto sociedade, escolhemos nos render a esse conteúdo e passamos a tratá-los como algo digno de admiração.