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Internacional Crítica

Nickel Boys (2024): O cinema vira testemunha em poderoso e simbólico filme sobre a segregação racial estadunidense

Filme de RaMell Ross usa perspectiva íntima para denunciar o racismo estrutural nos EUA

23/02/2025 23h59
Por: Gabriel Araújo
Imagem promocional de ''Nickel Boys''. Foto: Reprodução/Orion Pictures
Imagem promocional de ''Nickel Boys''. Foto: Reprodução/Orion Pictures

Baseado no aclamado romance de Colson Whitehead, Nickel Boys é um filme que não se contenta em apenas contar uma história — ele quer que você a viva. Dirigido por RaMell Ross, conhecido por seu trabalho documental, o longa acompanha a jornada de dois jovens negros, Elwood (Ethan Herisse) e Turner (Brandon Wilson), enviados a um reformatório na Flórida durante o auge da segregação racial nos anos 1960. A grande sacada do filme é a câmera subjetiva, que nos coloca diretamente na perspectiva dos personagens, alternando entre os dois protagonistas.

A escolha estética é, ao mesmo tempo, o maior trunfo e o maior desafio do filme. Nos primeiros 30 minutos, a técnica pode parecer um tanto desconfortável, quase como se o espectador estivesse sendo mantido à distância de uma história que exige envolvimento emocional. No entanto, à medida que a narrativa avança, a câmera subjetiva revela seu poder. As cenas de trabalho forçado, os espancamentos e os momentos de resistência ganham uma intensidade quase palpável, como se estivéssemos ali, vivendo cada segundo ao lado de Elwood e Turner.

Cena de ''Nickel Boys''. Foto: Reprodução/Orion Pictures

Elwood, interpretado por Ethan Herisse, é o coração da história. Um jovem idealista e esperançoso, ele acredita nas palavras de Martin Luther King Jr. e sonha com um futuro melhor. Já Turner é seu oposto: cético, pragmático e desconfiado de qualquer promessa de justiça. A dinâmica entre os dois é o que move o filme, criando um duelo filosófico sobre como sobreviver em um sistema criado para oprimir.

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A direção de RaMell Ross traz uma sensibilidade documental que enriquece a narrativa. Ele não se apressa em mostrar a violência explícita; em vez disso, opta por sugerir, deixando que a imaginação do espectador complete os espaços vazios. Essa abordagem, aliada a uma trilha sonora minimalista que prioriza sons ambientais (o rangido de portas, os passos em corredores vazios), cria uma atmosfera claustrofóbica e angustiante.

Cena de ''Nickel Boys''. Foto: Reprodução/Orion Pictures

No entanto, o filme não está livre de falhas. O ritmo, em alguns momentos, é problemático. Cenas cruciais, como uma tentativa de fuga, são tratadas com pressa, enquanto outras, menos relevantes, se estendem em contemplação excessiva. Além disso, o filme poderia ter explorado mais o contexto externo — a segregação racial, os protestos pelos direitos civis e a influência da comunidade negra local. Esses elementos dariam mais profundidade à crítica social que o filme tenta construir.

Apesar dessas questões, Nickel Boys é um filme poderoso. Ele não apenas retrata um capítulo sombrio da história dos EUA, mas também nos faz refletir sobre como o passado ecoa no presente. A câmera subjetiva, ainda que desafiante, cumpre seu papel de desestabilizar o conforto do espectador, obrigando-nos a confrontar a brutalidade de um sistema que reduz seres humanos a números.

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