Bob Dylan é, indiscutivelmente, um dos maiores artistas da história da música americana. Suas letras poderosas cativaram públicos de diversas gerações, atrelando uma espécie de trovadorismo moderno à música folk e, eventualmente, passeando por outros gêneros musicais. Dentre tantas facetas que Robert Allen Zimmerman (seu nome verdadeiro) teve ao longo de décadas de carreira, fica difícil definir um momento marcante. Até por isso mesmo, a ideia de se fazer um filme sobre ele se torna um grande desafio. Em 2007, tivemos o filme Não Estou Lá, de Todd Haynes, que não é exatamente uma cinebiografia. O longa de Haynes busca transformar as fases de Dylan em personagens com nomes distintos, mas, como o material de divulgação deixa claro, "todos são Bob Dylan". A ideia é interessante, e o elenco escolhido é excelente – com destaque para Cate Blanchett interpretando Bob em seu primeiro ponto de virada na carreira –, mas a execução não é tão eficiente, sendo um filme confuso em sua progressão. De toda forma, gosto da ousadia experimental.
Agora, em 2024, James Mangold – que já dirigiu a cinebiografia de Johnny Cash – assume a responsabilidade de retratar Dylan de maneira mais convencional. Mangold trabalha com um recorte temporal que cobre a ascensão do artista até o polêmico episódio em que ele trocou o violão pela guitarra elétrica, chocando fãs e críticos.
Bob é trazido às telas pelo corpo, alma e voz de Timothée Chalamet, que, à essa altura, já se tornou meu ator favorito da nova geração de Hollywood. É de aplaudir sua dedicação ao papel: ele nunca parece emular Dylan, mas sim capturar sua essência. Em nenhum momento Chalamet demonstra a pressão de interpretar uma figura essencial para a cultura dos anos 1960.
O filme se destaca por não se limitar à ótica de Dylan. Mangold também explora o impacto que ele causava nas pessoas ao seu redor. Começando por Woody Guthrie (Scott McNairy) e Pete Seeger (Edward Norton), figuras fundamentais em sua carreira inicial. Seeger tem uma presença forte no começo, mas mesmo com aparições pontuais, suas cenas são bem dosadas. No elenco de apoio, Elle Fanning brilha como a personagem fictícia Sylvie Russo, e Monica Barbaro interpreta Joan Baez com intensidade, retratando a montanha-russa emocional do relacionamento dela com Dylan. Há ainda menções breves à relação de amizade com Johnny Cash (Boyd Holbrook), ator recorrente na filmografia de Mangold desde Logan (2017).
O fato de Mangold não ser novato em cinebiografias é um trunfo. O diretor tem controle total da narrativa, equilibrando momentos íntimos com cenas de impacto histórico. A ambientação dos anos 1960 é imersiva sem cair em artificialidade – as roupas, os cenários e a fotografia evitam clichês, capturando a era com autenticidade.
A trilha sonora é exatamente o que se espera de um filme sobre Dylan: suas músicas emblemáticas aparecem em versões embrionárias ou quase finalizadas, intercaladas com canções de artistas que o influenciaram, como Guthrie e Hank Williams.
Um Completo Desconhecido cumpre eficientemente o papel de uma cinebiografia clássica, oferecendo ao espectador um retrato claro da importância de Dylan, tudo isso elevado pela atuação brilhante de Chalamet e pela direção segura de Mangold.
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