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Internacional Crítica

Anora (2024): Um conto de fadas moderno que vira pesadelo

Produção venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2024

04/02/2025 12h39 Atualizada há 4 dias
Por: Gabriel Araújo
Imagem promocional de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch
Imagem promocional de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

Sean Baker, conhecido por filmes como The Florida Project (2017) e Red Rocket (2021), está de volta com Anora (2024), mais uma obra que mergulha nas vidas daqueles que tentam sobreviver no capitalismo selvagem dos Estados Unidos, mas permanecem à margem da sociedade. Desta vez, o foco é Anora (Mikey Madison), uma dançarina de strip club cuja vida vira de cabeça para baixo quando ela se envolve com Vanya (Mark Eydelshteyn), o filho mimado de um oligarca russo. O que começa como um conto de fadas moderno rapidamente se transforma em uma história de amor, poder e desilusão, com a família de Vanya intervindo de forma brutal.

Imagem promocional de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

O primeiro ato de Anora é puro Sean Baker. Com enquadramentos precisos, um ritmo caótico perfeitamente calculado e uma trilha sonora que captura a essência da vida noturna, o diretor nos apresenta ao mundo de luxo e excessos de Vanya, enquanto Anora se vê cada vez mais encantada pela atenção e carinho que ele oferece. As cenas são repletas de erotismo e humor, mas nunca perdem de vista a humanidade dos personagens. Mikey Madison brilha como Anora, entregando uma performance cheia de nuances que nos permite enxergar além da superfície de sua vida glamorosa. Ela é uma mulher que, apesar de se divertir, enfrenta as dificuldades de morar em uma casa comum no Brooklyn, longe do mundo de riqueza que Vanya representa.

Cena de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

No entanto, o filme perde um pouco de fôlego no segundo ato. Uma sequência excessivamente longa, que introduz o conflito central da trama, parece estender-se além do necessário, criando uma sensação de descompasso no ritmo. Essas cenas, embora importantes para o desenvolvimento da história, poderiam ter sido mais concisas, evitando que o espectador se desconecte da narrativa. É como se Baker tentasse preencher uma lacuna no roteiro, resultando em um meio um tanto arrastado.

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Cena de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

Felizmente, o terceiro ato resgata o filme com maestria. O que começa como uma comédia repleta de momentos divertidos e picantes toma contornos dramáticos inesperados, explorando temas como poder, manipulação e a luta pela autonomia. A transformação de Anora, de uma jovem encantada pelo luxo para uma mulher confrontada com a dura realidade de seu relacionamento, é emocionante e dolorosa de se acompanhar. O final, em particular, é devastador, deixando o espectador com um olhar desolador sobre as escolhas e consequências que moldam a vida dos personagens.

Yura Borisov em cena de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

A direção de Baker continua sendo um dos pontos altos do filme. Sua habilidade em retratar a América marginalizada com sensibilidade e autenticidade é impressionante. Ele não tem medo de mostrar a crueza da vida, mas sempre com um toque de humanidade que torna seus personagens inesquecíveis. A fotografia e a trilha sonora também merecem destaque, criando uma atmosfera que oscila entre o glamour e a decadência. Vale também destacar a presença do personagem Igor, interpretado por Yura Borisov, que rouba a cena em alguns momentos.

Mikey Madison em cena de ''Anora''. Foto: Reprodução/Cinesearch

Anora pode não ser o filme mais consistente de Sean Baker, mas é uma obra poderosa que reforça sua posição como um dos diretores mais importantes do cinema independente contemporâneo. Com uma atuação profunda de Mikey Madison e um final que fica gravado na memória, o filme é uma reflexão ácida sobre amor, poder e as ilusões que nos mantêm presos.

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