A história do cinema seria incompleta sem mencionar Nosferatu, o clássico do Expressionismo Alemão dirigido por F.W. Murnau em 1922. A obra, uma adaptação não autorizada de Drácula, tornou-se um marco cultural, influenciando gerações e aparecendo até em referências pop, como no desenho Bob Esponja. Agora, mais de um século depois, o diretor Robert Eggers – conhecido por A Bruxa (2015) e O Farol (2019) – assume a tarefa de reimaginar o vampiro mais icônico do cinema. E ele não decepciona.
Eggers, frequentemente chamado de "o diretor do folk horror", traz sua assinatura visual e narrativa para este Nosferatu. A atmosfera angustiante, os cenários frios e vazios, e a sensação constante de paranoia são elementos que dominam o filme desde os primeiros minutos. A Alemanha do século XIX é retratada como um lugar sombrio e sem vida, um cenário perfeito para a trama repleta de erotismo, medo e decadência moral.
Desta vez, o foco narrativo recai sobre Ellen Hutter, interpretada por Lily-Rose Depp. Ellen é uma mulher atormentada por pesadelos desde a infância, que se intensificam quando seu marido, Thomas (Nicholas Hoult), parte para fechar um negócio imobiliário com o misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgård). O que começa como uma transação comum logo se transforma em um pesadelo, com Orlok revelando sua verdadeira natureza vampírica e trazendo consequências devastadoras para a vida do casal.
O elenco é um dos pontos altos do filme. Lily-Rose Depp entrega uma performance visceral, capturando a degradação mental de Ellen com uma intensidade impressionante. Sua atuação física, especialmente nos momentos de terror e vulnerabilidade, é digna de nota. Já Bill Skarsgård, como Orlok, é uma força da natureza. Sua interpretação é mais contida e sutil do que a de Max Schreck no original, mas não menos assustadora. A escolha de revelar o vampiro aos poucos, mantendo sua presença envolta em mistério, aumenta a tensão e o impacto de suas aparições.
O filme também conta com um elenco de apoio estelar, incluindo Willem Dafoe – que já havia participado de A Sombra do Vampiro (2000), um filme que explorava o mito por trás do ator do Nosferatu original –, assim como Ralph Ineson, Aaron-Taylor Johnson e Emma Corrin. Cada um deles contribui para a densidade da narrativa, mas é a química entre Depp e Hoult que sustenta o coração emocional da história.
Eggers não economiza em homenagens ao filme original. Cenas icônicas, como a sombra de Orlok se projetando nas paredes, são recriadas com maestria, mantendo a essência do Expressionismo Alemão. O esquema de cores, com tons frios e soturnos, também é uma clara referência ao visual do clássico de 1922. Esses detalhes não apenas agradam os fãs do original, mas também reforçam a conexão entre as duas obras.
O roteiro de Eggers vai além do terror gótico, explorando temas como liberdade sexual, paranoia, obsessão, desejo e o contexto social da época. Uma cena particularmente memorável mostra Thomas encontrando um vilarejo que realiza rituais para afastar Orlok, uma sequência que mistura horror e crítica social de forma brilhante. A fotografia e a trilha sonora complementam a experiência, criando um ambiente opressivo que mantém o espectador em constante estado de alerta.
No entanto, Nosferatu (2024) não é um filme perfeito. O terceiro ato, embora empolgante, parece apressado em comparação com o ritmo compassado e deliberadamente lento do restante do filme. Essa mudança brusca pode desconectar o espectador, especialmente após tanta construção atmosférica. Além disso, alguns subtextos, como a exploração da liberdade sexual, poderiam ter sido mais desenvolvidos para agregar profundidade à narrativa.
Apesar dessas pequenas falhas, Nosferatu (2024) é uma obra que honra o legado do original enquanto se afirma como uma produção única e autoral. Eggers mais uma vez prova sua habilidade em criar filmes que são tanto visualmente deslumbrantes quanto emocionalmente perturbadores. Para os fãs de horror gótico e cinema de arte, este é um filme que não pode ser ignorado.
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