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Brasil Geopolítica

O Natal se aproxima, e é necessário lembrar que Jesus era uma criança palestina desamparada

A imagem do presépio é um símbolo universal da fragilidade humana e da esperança.

19/12/2024 08h17 Atualizada há 3 semanas
Por: Clara Santos
https://images.app.goo.gl/FdJPuDvJrzw8b9Ji7
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Uma criança nasce em circunstâncias precárias, cercada pela ameaça de um império opressor. A narrativa cristã coloca essa criança, Jesus, no centro da promessa de redenção, mas, ao mesmo tempo, não permite esquecer sua origem terrena: Jesus era um judeu nascido na Palestina sob ocupação romana.

O Natal, no entanto, é celebrado anualmente de forma esvaziada de sua essência crítica, desconsiderando a realidade histórica de seu protagonista e ignorando que, hoje, as crianças palestinas vivem cercadas por bombardeios, fome e desespero, sob a ocupação e opressão de um Estado que utiliza as feridas do passado para justificar sua brutalidade presente.

Para entender a tragédia que assola a Palestina hoje, é preciso revisitar a história. Em 1947, a ONU propôs a partilha do território histórico da Palestina, dividindo-o entre um Estado judeu e um Estado árabe, embora a população majoritária da região fosse palestina. A criação do Estado de Israel, em 1948, foi acompanhada de massacres e da expulsão de mais de 700 mil palestinos, em um processo conhecido como Nakba (catástrofe).

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Desde então, o sonho palestino de autodeterminação foi reduzido a pó, enquanto Israel se consolidava como um Estado militarizado e expansionista, constantemente violando o direito internacional com a construção de assentamentos ilegais e a anexação de territórios.  

As guerras subsequentes e a ocupação da Cisjordânia e de Gaza em 1967 transformaram a Palestina em uma terra fragmentada, cercada por muros, bloqueios e checkpoints. Hoje, Gaza é uma prisão a céu aberto: dois milhões de pessoas vivem sob cerco israelense, sem acesso pleno a água potável, medicamentos ou energia elétrica.

Os ataques militares israelenses, muitas vezes apoiados pelas potências ocidentais, matam milhares de civis, incluindo crianças. Enquanto isso, Israel se justifica pela "segurança nacional" e pelo "direito à autodefesa", mas essas palavras mascaram décadas de apartheid e limpeza étnica.

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Governos sionistas extremistas promovem o deslocamento forçado de famílias palestinas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, enquanto utilizam o sofrimento judeu no Holocausto como escudo moral para legitimar ações que violam os direitos humanos.  

A história do povo judeu é marcada pela perseguição e pelo genocídio, especialmente durante o Holocausto, quando seis milhões de judeus foram exterminados pelo regime nazista. Esse passado, no entanto, deveria servir como um alerta contra a repetição da desumanização e da violência – mas não é isso que acontece. Como é possível que um povo que já foi vítima da opressão agora se torne opressor?  

A lógica sionista, que promove a ideia de um Estado exclusivamente judeu, é incompatível com os valores universais de justiça e igualdade. O governo de Israel, com seu aparato militar, é responsável por desalojar famílias, bombardear hospitais e escolas, e tratar milhões de palestinos como cidadãos de segunda classe.

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Ao mesmo tempo, utiliza sua influência política para silenciar críticas, acusando qualquer oposição de antissemita. A corrupção é evidente: fundos internacionais destinados à reconstrução de Gaza são frequentemente desviados ou sabotados, enquanto o lobby pró-Israel nas potências ocidentais garante a impunidade para seus crimes de guerra.  

Essa realidade expõe a hipocrisia de um Estado que, em nome da sobrevivência, perpetua a destruição de um povo que só deseja viver em sua terra natal. Quando olhamos para a imagem de Jesus Cristo, o Salvador venerado por milhões, é necessário lembrar quem ele foi: uma criança palestina desamparada.

Ele nasceu em Belém, cresceu sob a ocupação romana e viveu à margem da sociedade, denunciando as injustiças e acolhendo os oprimidos. Jesus não era branco, europeu ou privilegiado; ele era um símbolo da resistência contra o poder opressor.  

Hoje, se Jesus nascesse em Belém, provavelmente seria uma vítima do apartheid israelense. Talvez sua casa fosse demolida por não possuir uma licença de construção emitida por Israel – um processo quase impossível para palestinos. Talvez fosse morto por um drone enquanto brincava em Gaza. Ou talvez sua mãe, Maria, enfrentasse dificuldades para atravessar um checkpoint a caminho do hospital.  

Essa contradição deveria pesar na consciência dos cristãos que apoiam cegamente o Estado de Israel. Como é possível celebrar o nascimento de Cristo e, ao mesmo tempo, defender um sistema que oprime aqueles que compartilham a mesma terra e realidade histórica de Jesus?  

Neste Natal, enquanto famílias ao redor do mundo comemoram o nascimento de Cristo, é urgente lembrar das crianças palestinas que, como Jesus, enfrentam a pobreza, a violência e a exclusão. A tragédia da Palestina não é apenas um problema político; é uma questão moral que nos força a escolher entre a indiferença e a solidariedade, entre a complacência e a justiça.  

Jesus Cristo, com sua mensagem de amor e compaixão, nos desafia a sermos a voz dos silenciados. Não há Natal verdadeiro enquanto crianças forem mortas em Gaza e famílias forem expulsas de suas casas em Jerusalém. Não há paz enquanto o muro da ocupação separar irmãos, e não há justiça enquanto as lágrimas de um povo forem ignoradas.  

Que este Natal nos lembre de que a salvação começa com a coragem de dizer a verdade: a Palestina chora, e é nosso dever ouvi-la. Afinal, se não somos capazes de proteger os desamparados de hoje, como podemos nos dizer seguidores daquele que nasceu em uma manjedoura, cercado pela opressão?

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