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Brasil Crítica

''Ainda Estou Aqui'' é um alerta para que os horrores de nosso passado jamais sejam esquecidos

Filme traz um forte e sensível retrato da ditadura militar brasileira

21/11/2024 16h27
Por: Gabriel Araújo
Imagem promocional de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures
Imagem promocional de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures

Em 2024 completam-se 60 anos do golpe que instaurou a ditadura militar no Brasil. Os danos que as duas décadas seguintes de regime causaram para o país são sentidos até os dias de hoje. Já foram feitas diversas obras em mídias diferentes que destacam algum episódio em específico da ditadura, em especial, os anos de chumbo, que se referem ao período de maior repressão por parte dos militares, que foi entre 1968 e 1974. 

Dentre as pessoas que ficaram marcadas como símbolos da resistência ao regime, estão nomes como o jornalista Vladimir Herzog, e o deputado Rubens Paiva. Este último, só teve sua morte confirmada mais de 40 anos depois, após ser realizada a Comissão Nacional da Verdade. É deste ponto de partida que Walter Salles, adaptando o livro do filho de Marcelo Rubens Paiva, conta uma história de caráter pessoal, mas que ao mesmo tempo, reflete o que muitas famílias passaram naquele momento tão sombrio de nossa história.

Cena de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures

Em 1971, Rubens (Selton Mello) foi chamado para dar um depoimento para os militares e nunca mais voltou. Dessa forma, sua esposa, Eunice Paiva (Fernanda Torres) foi obrigada a ter que seguir em frente com a vida, enquanto cuidava de seus cinco filhos, ao mesmo tempo que viveu em busca de respostas para o sumiço de seu marido.

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Não dá para começar a falar desse filme sem abordar sua maior qualidade que se destaca e se torna a maior pauta de conversas. Fernanda Torres. Com uma atuação mais do que inesquecível, Fernanda entrega toda a dor de uma esposa em busca de respostas, e de uma mãe que tem que esconder tudo pelo que está passando pelo bem estar de sua família. Às vezes, apenas com o olhar, ela já consegue deixar claro para o espectador tudo que a personagem está passando. Na iminência de uma indicação para o Oscar, todas as reverências ao seu trabalho são justas e à altura do que ela entrega em cena aqui.

Cena de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures

Mas não é somente Fernanda que se destaca em Ainda Estou Aqui. Na verdade, todo mundo está muito bem no filme. Selton Mello como Rubens Paiva, mesmo aparecendo pouco, é o suficiente para marcar o espectador e gerar o impacto necessário da trama. Os filhos também têm uma força de atuação ótimas, tanto o primeiro núcleo quanto os seguintes com o passar do tempo na história. Vale lembrar que não é a primeira vez que Fernanda e Selton participam de um filme sobre a ditadura militar, já que ambos fizeram O Que É Isso, Companheiro?, mas que vai para um caminho bem diferente desse. E é claro, vale citar também a breve participação de Fernanda Montenegro mais ao fim, que mesmo não falando uma palavra sequer, seu olhar diz muito.

O longa se passa em três períodos de tempo distintos, e cada um é retratado da maneira mais fiel possível, especialmente os anos 70, que é o período mais abrangido pela trama. O figurino, a fotografia, a trilha sonora, são colocados de maneira a fazer o espectador ficar completamente imerso no filme, algo que é muito importante para que se sinta a densidade do assunto que está sendo retratado.

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Cena de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures

Walter Salles tem um grande domínio da direção e da história que quer contar, então ele sabe exatamente onde deve puxar mais para o lado emocional de Eunice, ou evidenciar a união da família, contextualizar sobre a época, e mesmo sendo uma história séria, ainda reserva alguns momentos que passam um sentimento de ternura vindo do esforço da personagem em querer dar uma boa vida aos filhos apesar de tudo.

Cena de ''Ainda Estou Aqui''. Foto: Reprodução/Sony Pictures

Respeitoso como deve ser, Ainda Estou Aqui presta uma grande homenagem a Rubens, Eunice, seus filhos e todos aqueles que tiveram a vida marcada eternamente por esse período sombrio da história do Brasil. É preciso assistir, refletir, nunca esquecer, e mais do que tudo, é preciso dar um jeito, meu amigo.

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