A DC, indo em contrapartida à sua rival Marvel Studios, pensou na ideia de criar o ‘’Elseworlds’’, que seriam produções que não estão interligadas a um universo compartilhado, tendo assim, uma liberdade criativa maior por parte dos realizadores. Disso saíram produções como o excelente Batman de Matt Reeves, que agora se expande com a minissérie do Pinguim, e Coringa, de Todd Phillips. A visão do diretor para essa releitura tem duas inspirações bem claras, sendo Taxi Driver e O Rei da Comédia, ambos de Martin Scorsese (que também é produtor).
O filme acabou sendo um enorme sucesso, sendo inclusive, alvo de muita polêmica por parte de uma parcela do público que julgou que a obra poderia gerar gatilhos de saúde mental na audiência. O fato é que a Warner não queria largar a mão de Coringa tão fácil, e mesmo sem pretensões de haver uma sequência, o estúdio encomendou em um período de crise criativa na DC um segundo longa, e assim nasceu Delírio a Dois.
Após todo o caos instaurado pela figura do Coringa no primeiro filme, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) agora aguarda julgamento por seus atos, enquanto se apaixona por Lee Quinzel (Lady Gaga) durante a terapia musical, e é aí que os problemas começam, e eu não estou falando da premissa. Diferente de seu antecessor, Delírio a Dois é, em essência, um musical, mas ele nunca se assume totalmente como um em suas 2 horas e 18 minutos de duração, ao mesmo tempo que tenta trazer o estilo dramático do primeiro filme. O resultado disso é que o longa fica sempre no meio-termo de suas escolhas e não se resolve tematicamente, o que acaba refletindo na própria história, que é pouco inspirada.
As inserções musicais são releituras de canções que já existem, e algumas entram quase que descrevendo literalmente o momento da história. Entretanto, os números cantados são vazios, e se a intenção era ir mais por esse caminho, trazer esse sentimento para quem assiste complica muito as coisas. É nítido que Joaquin Phoenix faz um esforço para tentar entregar uma boa performance cantada, mas o ator não se encaixa para esse tipo de atuação. Com a adição de Lady Gaga nesta equação, era de se esperar que ela complementasse positivamente essa nova roupagem para o segundo filme, visto que é uma cantora, mas a personagem é mal trabalhada. Mesmo entregando bons vocais, a sensação que passa é que Gaga está apenas sendo ela mesma, e não interpretando sua personagem, e isso é mais culpa do roteiro do que da atriz.
Toda a equipe de produção do primeiro é a mesma aqui, mas é impressionante pensar que caiu tanto em qualidade nesse quesito. Claro que ainda existem momentos em que o valor de produção ainda brilha, mas em breves lampejos, diferente da solidez entregue no filme original. A sequência de abertura é interessante, e alguns segmentos mais fantasiosos relacionados à música também, mas a qualidade Delírio a Dois é alcançada quando o filme resgata a atmosfera melancólica do primeiro.
Existem também, alguns segmentos que se passam no tribunal, durante o julgamento de Arthur. São momentos em que se discute os atos do personagem e levanta discussões até interessantes a respeito do Coringa enquanto representação de figura anárquica para a cidade de Gotham, mas nada que haja um grande aprofundamento. O fã mais atento do universo do Batman vai reparar algumas referências nessas cenas.
No fim das contas, o grande pecado de Coringa: Delírio a Dois é em ser completamente indeciso desde sua concepção, o que acaba tornando toda a ideia do filme descartável, sendo uma sequência sem propósito, e muito provavelmente, fechando essa reimaginação de Todd Phillips de maneira amarga.
Mín. 23° Máx. 38°
Mín. 23° Máx. 37°
Tempo limpoMín. 23° Máx. 38°
Tempo nublado