Esperar parece a contramão da sociedade atual

É difícil aceitar que as coisas precisam de um tempo para acontecer, para se desenvolver ou até mesmo para fazer sentido dentro de nós. Confesso que nem em toda a minha existência isso tem sido uma tarefa fácil, melhorei com a terapia, mas isso não significa que parou de me incomodar.

Saber esperar vai além da espera em si, é também o reconhecimento de quem somos, das nossas potências e dos nossos limites. Mas vou deixar esse raciocínio mais claro para vocês meus amigos leitores.

Não é novidade dizer que a sociedade em que vivemos a todo momento nos estimula a pressa, ao imediatismo e a aceleração dos nossos processos, mas o que fazer quando nosso corpo já não aguenta mais esse ritmo, o qual por tantos anos tem sido nossa forma de viver e se implicar no mundo?

Mas preciso ressaltar que quando falo em “esperar”, não me refiro a passividade ou ao ato de aguardar pacientemente que algo aconteça ou como diz o ditado popular “caia do céu” sem nenhum movimento prévio, falo da espera como um verbo, uma ação.

É sobre entender que apesar de todos os movimentos que fiz para chegar em determinado lugar ou realizar determinadas coisas por algum motivo que desconheço ainda não aconteceu. E isso perpassa pela compreensão de que existe um tempo de maturação das coisas que não estão no meu controle, mas eu entendo que só saber disso não é suficiente, o desafio é maior ainda, pois também precisamos passar pela etapa da aceitação.

A ansiedade tão falada atualmente contribui para essa nossa deficiência de paciência, estamos acostumados ao aceleramento da vida, esperar chega como uma tortura. Saber esperar também é lidar com as expectativas frustradas e eis que o desafio só cresce.

A era digital em que vivemos coloca o mundo em nossas mãos, com a ideia de que tudo está ao nosso alcance e se o outro pode eu também posso, é aí que a situação complica, pois somos bombardeados diariamente com a vida do outro, a qual facilmente se torna mais interessante do que a nossa, já que só vejo um recorte, gerando desejos e mais desejos, uns até inalcançáveis para a nossa realidade.

E aí eu te pergunto, como podemos esperar o tempo das coisas ou o resultado das nossas próprias conquistas se estamos focados no que não é nosso? A vida acontece também no processo, para chegarmos onde desejamos existem muitas etapas para acontecer, e se estivermos realmente presente em todas elas, de corpo e alma, com certeza conseguiremos entender o período de espera ou de celebração. As vezes é preciso andar na contramão da sociedade.

Glaciliana Angelo
Psicóloga Clínica - CRP 11/12950
@glacilianaangelo